São Francisco e as Cruzadas

O pai da missão: São Francisco.

Costuma-se dizer que os santos sofrem durante a vida, e que, mesmo no céu, tem que suportar a deturpação de seus atos, nas páginas de seus biógrafos, que muito deturpam seus passos e intenções.
Querem fazer dele um santo romântico e ecológico. Pior ainda um santo pacifista.
E aqui no Brasil, para o cúmulo dos absurdos, um santo “espírita kardecista”. Existem centros que levam seu nome… Surpreendentemente o admiram por sua vida, mas não consideram o fato de que tudo o que ele foi e que ele fez foi num ambiente católico, dentro da fé católica, e sempre para a glória de Deus e da Sua Igreja.
A Igreja Católica é como o vitral de uma Catedral. E Nosso Senhor em sua majestade e glória é como o sol. Assim como o vitral nos permite olhar diretamente para a luz sem nos cegar, assim é o papel da Igreja diante do Todo-Poderoso Deus.
Quem é tão bom e tão santo para dizer “sou capaz de chegar a Deus diretamente”? Ou “Não preciso de nada para estar frente a frente com Deus”?
Ficar de igual para igual com Nosso Senhor… Bem, para quem se julga justo o suficiente, a humildade mandou lembranças…
Pois é. Dizem admirar Francisco, mas rejeitam a própria Fé que elevou a vida de Francisco…
Mas a história mostra de forma muito diferente a trajetória deste homem, que sempre agiu de forma coerente com as suas crenças.
Por exemplo, como católico ele deu sua contribuição nas cruzadas.
São Francisco abraça a Cristo (Bartolomé Murillo)

São Francisco abraça a Cristo (Bartolomé Murillo)

O grande santo nos começos do século XIII trabalhara para reconstruir no povo cristão o ardor inicial do cristianismo. Durante a Quinta Cruzada, quando os cristãos cercaram Damietta, no delta do Nilo, no Egito, São Francisco foi para lá.
Os cruzados que, em 1219, cercavam Damietta, viram chegar em meados de julho, como referiu Jacques de Vitry na sua Histoire occidentale, “um homem simples e sem letras, mas muito amável e querido de Deus como dos homens, o padre Francisco, fundador da Ordem dos Menores“. Fora no capítulo de 1219 que se decidira enviar irmãos aos países infiéis; o irmão Egídio embarcara para Túnis e outros tinham tomado a direção do Marrocos, onde encontrariam a palma do martírio. Desejoso também de derramar o seu sangue por Cristo, o próprio Francisco partiu para o Oriente. Eram tantos os amigos que queriam acompanhá-lo que foi preciso tirar à sorte os doze que seriam escolhidos. Entre estes, contavam-se o irmão Iluminado, o irmão Pedro de Catânia, o irmão Leão e o irmão Bárbaro, um dos seus primeiros discípulos.
O espetáculo que o exército dos cruzados oferecia não era de molde a cumular de felicidade a alma do santo; entre os chefes, a desunião era completa; entre as tropas, reinava a pior licenciosidade e o acampamento estava cheio de meretrizes. Além disso, os cristãos amontoavam um fracasso atrás do outro. Quando, em 29 de agosto, quiseram tentar um assalto definitivo, São Francisco teve uma visão de Deus, que lhe disse que os cristãos seriam derrotados num combate que preparavam. São Francisco os preveniu, mas não foi ouvido, e, nesse combate, os cristãos perderam 6.000 homens. Mas o cerco de Damietta prosseguiu.
Permaneceu entre os cruzados durante longos meses, e o seu apostolado teve a princípio resultados maravilhosos. Depois do episódio do ataque frustrado, consideravam-no inspirado por Deus. Corajoso e cheio de generosidade, aparecia entre os cavalheiros como o próprio modelo da Cavalaria. Em breve ganhou seguidores. “Esta Ordem que se desenvolve enormemente“, diz ainda Jacques de Vitry, “lembra a Igreja no tempo dos apóstolos. Mestre Régnier, prior de Saint-Michel, entrou para lá, assim como Colin o Inglês, nosso clérigo, e Dom Mateus, a quem eu tinha confiado o cuidado da Santa Capela; Miguel, Henrique o Chantre e muitos outros, cujos nomes me escapam, fizeram o mesmo“. Mas esses felizes resultados, obtidos apenas entre os cristãos, não podiam satisfazer o coração de apóstolo do santo.
Decidiu então ir pessoalmente aos maometanos, o que o fez ser motivo de riso entre os cruzados, visto que, naquele momento, o sultão oferecia recompensa para cada cabeça de cristão que lhe fosse apresentada.
Mesmo o Cardeal Pelágio, recém-chegado, não acreditava no seu êxito. Porém, em face à virtude do santo, de maneira nenhuma poderia impedi-lo de seu intento. Só que eximiu-se de toda responsabilidade no caso e permitiu que este fizesse o que bem entendesse.
No momento em que ele decidiu partir, os seus seguidores disputavam tanto entre si quem deveria ir com ele, que precisaram tentar a sorte.
São Francisco, então, resolveu ir até os maometanos, para tentar convertê-los ou morrer mártir. Foi até as tropas maometanas cantando os versículos do Salmo XXII: “Mesmo que esteja entre as sombras da morte, nada temerei, Senhor, porque Tu estás comigo” (e os protestantes diziam que os católicos desconheciam as Sagradas Escrituras…). É desnecessário dizer que, assim que viram os dois frades, os muçulmanos se precipitaram sobre eles para matá-los. “Sultão! Sultão!“, gritava Francisco com todas as forças. Os guardas julgaram que se tratavam de homens que vinham parlamentar e então acorrentaram e aprisionaram ao santo e ao frade que o acompanhava (o irmão Iluminado), batendo muito nos dois frades, até conduzí-los depois ao acampamento.
Levado diante do sultão do Egito, Malek-al-Kamil, São Francisco pregou valentemente o cristianismo, a Santíssima Trindade, e atacou Maomé de modo nada ecumênico. Queriam matá-lo por isso, mas o Sultão não deixou. O sultão era o mesmo que mantinha relações amistosas com Frederico II. Curioso e um pouco cético, não lhe desagradava discutir com um sábio cristão os méritos comparados do Alcorão e do Evangelho. Ordenou, pois, que trouxessem à sua presença os inesperados parlamentares e, para se divertir um pouco, mandou estender na sua frente um tapete cheio de cruzes desenhadas, para obrigar os dois cristãos a pisarem o símbolo sagrado, o que Francisco fez sem a menor hesitação. “Como? Tu caminhas sobre a cruz de Cristo?“, exclamou o muçulmano, troçando. “Não sabes“, respondeu-lhe o santo, “que no Calvário havia várias cruzes, a de Cristo e a dos ladrões? Nós adoramos a primeira, mas, quanto às outras, deixamo-las com todo o gosto para vós, e, se vos apraz semear o chão com elas, por que havemos de ter escrúpulo em pisá-las?“.
Assim iniciado, o relacionamento entre os dois homens logo se tornou cordial. Malek-al-Kamil chegou a propor a Francisco que viesse morar em sua casa. “Com muito prazer“, respondeu o santo, “se te fizeres cristão!“. E, para provar ao sultão a incontestável superioridade do seu Deus, propôs-lhe submeter-se a uma prova.
Manda acender uma grande fornalha. Os teus ulemás e eu entraremos nela e, pelo que acontecer, poderás saber qual das duas religiões é a mais santa e mais verdadeira!
Quem saísse vivo da fogueira teria provado que seu Deus era o verdadeiro.
Nenhum ulemá aceitou entrar na fogueira.
Então eu entrarei sozinho“, respondeu Francisco. “Se eu morrer, atribuirás isso aos meus pecados; mas se o poder divino me proteger, juras reconhecer Cristo como verdadeiro Deus e Salvador?“. E, nesse caso, o sultão deveria se fazer batizar com todo o seu povo.
Desta vez, o sultão ficou com medo…
O Sultão Malek-al-Kamel, de medo de ser deposto pelos seus homens, não aceitou nem essa proposta. A muito custo o sultão tentou convencê-lo de que, como chefe dos crentes do Islã, lhe seria difícil batizar-se. Depois, quis cumular de presentes aquele homem maravilhoso, mas Francisco recusou-os todos, aceitando apenas uma pequena corneta que lhe serviria para chamar a sua gente para o sermão.
A pregação de São Francisco, que foi ouvida até pelos lobos, não foi aceita pelos muçulmanos, que provaram assim serem mais duros que lobos.
Foi com as maiores atenções que Malek-al-Kamel o mandou reconduzir ao acampamento dos cruzados. “Não te esqueças de mim nas tuas orações“, disse-lhe ao despedir-se, “e possa Deus revelar-me por tua intercessão a crença que lhe é mais agradável“.
São Francisco voltou ao campo cruzado.
A guerra prosseguiu, e depois de 17 meses de cerco, Damietta foi tomada.
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Giotto: a prova de fogo de São Francisco de Assis, diante do sultão do Egito
***
Hoje, se procura denegrir São Francisco, como se ele tivesse combatido a Cruzada.Os pacifistas modernos — contrários às guerras e às polêmicas — e sempre dispostos a dialogar com os inimigos de Deus e da Santa Igreja, dizem inspirar-se no exemplo de São Francisco.

Se fossem sinceros, eles deveriam ir até os inimigos de Deus, e, como São Francisco, pregar a eles a religião verdadeira com destemor, e atacando as falsas religiões, assim como São Francisco atacou Maomé, diante dos maometanos.

Se fossem mesmo sinceros imitadores de São Francisco, esses pacifistas deveriam propor, como ele, entrarem numa fogueira junto com os hereges e ateus, para ver quem sairia vivo.

Desconfio de que ninguém, aí, sairia vivo.

Mas, assim como não ouve nenhum ulemá disposto a aceitar o desafio de São Francisco, duvido que qualquer padre pacifista e ecológico atual enfrentasse o fogo de um palito de fósforo para defender suas heresias.

O que prova esse caso da vida de São Francisco é que certos hereges e infiéis nem com o exemplo de um santo como São Francisco se convertem. Nem com a promessa de um milagre. Ora, se nem a santidade de um São Francisco conseguiu converter certos pecadores, não será o diálogo ecumênico — um bla-bla blá pseudo teológico — que vai conseguir isso.

Como disse Santa Joana d´Arc, uma santa de couraça e de espada na não, “só se conseguirá a paz na ponta da lança“.

Fonte

A Igreja das Catedrais e das Cruzadas – Daniel Rops.
S. Francisco e as Cruzadas – Carta-resposta do Prof. Orlando Fedeli, disponivel no site Montfort

Sobre Bruno Luís Santana

Ego Catolicus Romanus sum.
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3 respostas para São Francisco e as Cruzadas

  1. murilomz disse:

    Deplorável que São Francisco tenha se proposto à se por frente à morte para ofender uma pessoa tão boa quanto foi Maomé.

    • Lucia Nunes disse:

      “Maomé, depois de mudar sua residência para Medina, levou seus seguidores a batalhas e a ataques a áreas tribais. Ele lutou em conflitos importantes como as batalhas de Badr, Uhud e al-Khandaq. Ibn Ishaq, seu biógrafo, diz que ele lutou em vinte e sete batalhas. Além disso, ele enviou tenentes a caravanas de invasão – as invasões são conhecidas como ghazwat. Cerca de 100 dessas invasões aconteceram principalmente para chamar os árabes ao islamismo. Se eles se desviassem da fé verdadeira, os “apóstatas”, como os pagãos, deveriam ser combatidos até aceitarem o islamismo ou serem mortos – como estamos vendo atualmente no Estado Islâmico (EI).(…)”. Trecho extraído de – O islã e a “matança” de inocentes, escrito por Denis MacEoin. Fonte: http://www.beth-shalom.com.br/artigos/isla_matanca_inocentes.html

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